
costura, ancestralidade e expressão artística
O projeto ENTRE FIOS tem como objetivo destacar como as práticas têxteis, muitas vezes passadas de geração em geração, carregam histórias de cuidado, criatividade, sobrevivência e identidade. Historicamente pouco reconhecidas no mundo da arte, essas práticas têm sido uma forma vital de expressão para as mulheres em todas as culturas. Esse círculo homenageia essa linhagem e, ao mesmo tempo, cria espaço para novas expressões.
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O trabalho têxtil é simultaneamente individual e coletivo. Ao tecer, costurar, bordar ou remendar nos conectamos com saberes antigos, muitas vezes transmitidos de mãe para filha, de avó para neta e, nesse gesto, o fazer cotidiano deixa de ser apenas utilitário e se torna também linguagem, expressão, presença. Mãos que não apenas produzem objetos, mas ativam memórias, honram legados e compartilham histórias.
Historicamente relegado ao espaço privado, o trabalho têxtil feminino foi visto por muito tempo como “artesanato” ou “trabalho doméstico”, e raramente reconhecido como arte. No entanto, feministas e artistas têm há décadas desafiado essa separação. A costura, o bordado, o patchwork, todos esses gestos carregam uma potência criativa que vai além da técnica: são formas de narrar o mundo a partir do corpo, do cuidado, da ressignificação, da resistência.
Ao reunir mulheres em torno desse fazer, abrimos um espaço onde o técnico encontra o simbólico. Cada ponto é uma escolha, uma escuta, uma construção de sentido.
Como se todas as mulheres que vieram antes de nós, suas histórias de vida, suas expressões criativas, seus silêncios, estivessem presentes nas linhas que cruzam o tecido.
Assim, o fazer têxtil deixa de ser apenas prático e se afirma como gesto artístico, político e ancestral. Nesse processo, o grupo se transforma também em espaço de criação coletiva. Costurar juntas é compartilhar tempo, história e subjetividade.
É transformar o gesto aprendido em fala própria. É reconhecer que arte pode nascer do cotidiano/familiar, e que as mãos que costuram carregam muito mais do que agulhas e linhas: carregam mundos.
“A costura foi meu modo de falar, de fazer política e de lembrar quem eu sou.”
— Faith Ringgold, artista têxtil e ativista